Imagine uma situação de crise: uma enchente que isola uma cidade, uma guerra, uma pandemia ou qualquer outro evento que interrompa o acesso a medicamentos.
Para quem usa remédios apenas de forma esporádica, isso pode parecer uma preocupação secundária diante de tantas outras urgências. Mas até problemas de saúde simples podem se tornar sérios quando o tratamento é interrompido e, para quem depende de medicamentos contínuos, o risco é ainda maior.
Por isso, saber como escolher, organizar e armazenar medicamentos de forma segura é fundamental. Mais do que isso, é preciso ter planos de uso emergenciais.
Afinal, em uma situação crítica, saber agir é tão importante quanto ter os recursos certos à disposição.
Orientações gerais
Quase todo mundo tem uma pequena “farmacinha” em casa, uma gaveta, uma caixa ou um armário com alguns medicamentos. Mas, para que esses remédios se mantenham seguros e eficazes pelo maior tempo possível, é fundamental seguir algumas orientações simples:
Mantenha longe da luz e do calor: evite guardar medicamentos próximos ao fogão, janelas ou dentro do carro
Prefira locais secos: a umidade acelera a degradação de comprimidos e cápsulas
Organize por data: posicione os frascos e blisters de modo que os mais antigos, ou com vencimento mais próximo, sejam usados primeiro
Fique atento à validade: remédios vencidos há pouco tempo podem manter parte da eficácia, mas devem ser reservados apenas para situações emergenciais e de último recurso
Rotatividade: mesmo que o prazo de validade seja igual, use primeiro o que está armazenado há mais tempo. Isso evita desperdício e mantém o estoque em boas condições
Além dos medicamentos, é recomendável ter guias impressos de referência, com tabelas de dosagem e observações específicas. Esses materiais devem incluir:
Principais sintomas das doenças a serem tratadas
Dose e tempo de tratamento
Parâmetros de acompanhamento (melhora, piora ou sinais de alerta)
Com essas informações à mão, é possível identificar precocemente muitos problemas, aplicar o tratamento correto e evitar desperdícios.
Medicamentos de uso pontual
Alguns medicamentos são usados apenas “quando necessário”, em situações leves e ocasionais, como dores, febre, inflamações ou pequenos distúrbios digestivos. Mesmo assim, eles devem estar presentes em qualquer kit de emergência:
Antitérmicos e anti-inflamatórios: para febre e dores comuns (ex.: paracetamol, ibuprofeno)
Sais de reidratação oral: essenciais em casos de diarreia, vômitos ou exposição prolongada ao calor
Pomadas e cremes com corticoide: úteis para picadas de inseto, reações alérgicas ou irritações na pele
Antissépticos: para limpar ferimentos e prevenir infecções (ex.: álcool 70%, clorexidina, água oxigenada)
Antidiarreicos e antieméticos: auxiliam no controle de diarreia e vômitos ocasionais
Cuidados específicos
Evite antidiarreicos em casos suspeitos de infecção intestinal: eles podem reter micro-organismos no intestino e agravar o quadro. Nessa situação, o ideal é manter a hidratação com sais de reidratação oral e, se indicado, recorrer a um antibiótico sob orientação médica
Atenção aos antieméticos: medicamentos como a metoclopramida podem causar efeitos adversos, como inquietação, mal-estar e tremores, principalmente em crianças e adolescentes
Antibióticos e antiparasitários
Essa categoria exige atenção especial, mas em situações de isolamento ou colapso pode ser decisiva.
Manter um pequeno estoque de antibióticos de uso amplo, como amoxicilina, azitromicina ou ciprofloxacino, e antiparasitários básicos, como albendazol ou ivermectina, pode salvar vidas, desde que o uso e as doses sejam conhecidos previamente.
Antes de montar esse estoque, converse com um médico. Ele poderá indicar quais medicamentos são mais adequados e em que circunstâncias utilizá-los.
O uso incorreto de antibióticos pode agravar infecções e favorecer a resistência bacteriana, tornando futuros tratamentos menos eficazes.
Medicamentos de uso contínuo
Para quem depende de remédios diariamente, como insulina, anti-hipertensivos, anticonvulsivantes ou hormônios de reposição, o ideal é manter um estoque rotativo de pelo menos 30 dias.
Se houver condições, ampliar para 60 ou 90 dias oferece uma margem de segurança maior em períodos de interrupção de abastecimento.
Guarde também cópias impressas das bulas e das instruções de uso (dose, horários, ajustes e possíveis interações). Em situações de crise, pode não haver acesso a internet ou aplicativos.
A organização desses medicamentos deve ser simples e clara, evitando falhas de dose ou interrupções inesperadas.
Suplementos
Em cenários prolongados de restrição alimentar, a dieta tende a se tornar limitada e pobre em micronutrientes. Nesses casos, suplementos ajudam a prevenir deficiências que podem surgir em poucas semanas.
Os mais úteis são:
Vitamina C: auxilia na imunidade, na cicatrização e reduz o risco de infecções urinárias
Complexo B: essencial para o sistema nervoso e para o metabolismo energético; sua deficiência causa fadiga, irritabilidade e alterações neurológicas
Vitamina D: importante para a imunidade e para a saúde óssea, especialmente quando a exposição ao sol é limitada
Ferro: previne anemia em dietas com baixa ingestão de carne ou vegetais frescos
Armazene tudo em local seco, fresco e protegido da luz. Prefira comprimidos e cápsulas sólidas, que têm durabilidade maior do que versões líquidas ou efervescentes.
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| Por mais improvável que seja, sempre existe a possibilidade de um conflito armado, que atrapalhe o fornecimento de medicamentos para diferentes localidades do país. |
Emergências
Em situações de crise, o estresse e o medo podem comprometer a memória e a capacidade de raciocínio. Por isso, protocolos simples e claros são essenciais.
Monte um manual impresso, com linguagem objetiva e, se possível, ilustrações. Ele deve incluir:
Função de cada medicamento e item
Doses recomendadas por idade e peso
Intervalos de uso
Combinações seguras
Local exato onde cada item está guardado
Guarde esse manual junto ao kit de primeiros socorros, em um local de fácil acesso e conhecido por todos.
O que e quanto comprar para um estoque caseiro
A quantidade ideal depende do número de pessoas, das condições de saúde de cada uma e do nível de isolamento provável.
As necessidades também variam conforme o ambiente. Em áreas rurais, por exemplo, ferimentos e acidentes leves são mais comuns, portanto, convém manter mais materiais para curativos e antissépticos.
Como referência geral:
Medicamentos de uso contínuo: reserva mínima de 30 dias, idealmente 90 dias
Medicamentos de uso pontual e primeiros socorros: quantidade suficiente para tratar sintomas leves por 1 a 2 semanas
Kit complementar: gaze, luvas, esparadrapo, termômetro (com bateria reserva), pinça, tesoura, curativos e lanternas
Revise o estoque a cada três ou quatro meses. Substitua o que estiver próximo do vencimento, atualize as anotações e certifique-se de que todas as pessoas da casa saibam onde o material está guardado.
Dúvidas comuns sobre o tema
Sim. Em situações de restrição alimentar, vitaminas e minerais ajudam a prevenir deficiências e manter o funcionamento adequado do organismo. Priorize vitamina C, complexo B, vitamina D e ferro, ou multivitamínicos.
Mantenha um manual impresso com o nome, função, dose e frequência de cada medicamento, além de instruções visuais simples. Isso reduz erros e facilita o uso correto, mesmo sob estresse.
Um local seco, fresco e protegido da luz, longe do calor e da umidade. Evite guardar remédios em banheiros, cozinhas ou dentro do carro. Gavetas internas ou caixas organizadoras em armários fechados são boas opções.

