Se o SHTF (Shit Hits the Fan) é o evento que anula os sistemas de apoio, a preparação é a sua estratégia para compensar essa ausência. Em meio ao caos, a complexidade (quando não levada em consideração) é inimiga da sobrevivência.
Por isso, a mentalidade do preparador deve se concentrar em três pilares fundamentais, que garantem a manutenção da vida a longo prazo.
Estes pilares são universais e se aplicam a qualquer cenário de crise, seja ele um apagão prolongado, crise nuclear ou um colapso econômico lento. Existem muitos outros fatores que podem melhorar ou dificultar as chances de sobrevivência, mas esses três (água, segurança e alimentos) são imprescindíveis.
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Água
A água é o recurso mais crítico e o primeiro ponto de falha no preparo, pois o corpo humano só pode sobreviver em média três dias sem ela. Em um cenário SHTF, o abastecimento público cessa ou se torna perigosamente contaminado.
A estratégia da água deve ser dividida em três fases:
Armazenamento imediato (o estoque estático)
O primeiro passo é garantir uma reserva de água tratada para consumo e higiene. Recomenda-se um mínimo de 4 litros por pessoa, por dia. Este estoque deve ser mantido em recipientes seguros e rotacionados regularmente. É sua garantia inicial enquanto você implementa as soluções de longo prazo.
Fontes alternativas
Idealmente, você precisa identificar, mapear e ter acesso a fontes de água fora da rede pública em um raio viável de sua localização. Isso inclui rios, lagos, cisternas, poços e até mesmo fontes internas em edifícios (como reservatórios de aquecedores ou água da chuva).
Purificação
Encontrar água é inútil se você não puder torná-la potável. Sem isso, o risco de doenças transmitidas pela água e intoxicações é grande, incluindo parasitoses, problemas gástricos causados por bactérias, ingestão de contaminantes.
Daí a importância de dominar múltiplos métodos de purificação:
- Filtragem mecânica: Uso de filtros de cerâmica ou fibra oca (como Sawyer ou Berkey) para remover sedimentos, protozoários e bactérias.
Purificação química: Uso de cloro ou iodo (em quantidades corretas) para matar vírus e bactérias.
Fervura: O método mais confiável para matar a maioria dos patógenos, mas consome combustível, um recurso escasso.
O domínio da purificação é o que transforma uma fonte de risco (água parada ou suja) em um recurso sustentável.
Segurança
Em um cenário de colapso, a lei e a ordem desaparecem ou se tornam irrelevantes em muitos lugares, seja em zonas urbanas (com maior concentração de gente e menos recursos naturais) ou rurais.
A segurança da população deixa de ser uma prioridade para o Estado e passa a ser uma função de autodefesa e planejamento estratégico. O objetivo principal da segurança em SHTF não é o ataque, mas a proteção de seus recursos.
Segurança do perímetro
Se a estratégia for permanecer na sua localização (Bug in), o foco deve ser a discrição e o fortalecimento estrutural:
Discrição: Evite ostentar suprimentos ou gerar fumaça e luz que possam atrair atenção indesejada. A discrição é a sua primeira linha de defesa.
Reforço: Bloqueie ou reforce pontos de acesso vulneráveis (portas e janelas) e estabeleça "pontos de observação" discretos. Câmeras de segurança podem ser úteis.
Comunicação: Tenha planos de comunicação claros com seu grupo, incluindo códigos e sinais para ameaças.
Defesa ativa e passiva
A preparação inclui o treinamento e equipamentos necessários para defender seu grupo e seus suprimentos:
Treinamento: Proficiência no uso de armas de fogo e armas brancas (lâminas, bastões) é essencial. Mais importante do que o equipamento é a disciplina e a capacidade de tomada de decisão sob estresse.
Alarmes: Crie sistemas de aviso passivos, como alarmes de perímetro improvisados, para garantir tempo de reação.
Lembre-se: em um cenário SHTF, a ausência de lei significa que a ética do confronto é simplificada. A incapacidade de se defender implica a perda de tudo que você preparou.
Alimentos
O armazenamento de alimentos é a base da preparação. No entanto, o estoque é apenas um ativo temporário. O verdadeiro sobrevivencialista planeja a sustentabilidade alimentar, pois a crise pode se estender por anos.
A estratégia de alimentos deve ser uma pirâmide de suprimentos e habilidades:
Nível 1: O estoque
O estoque de longo prazo é a sua linha de vida inicial:
Foco calórico: Armazene alimentos com longa vida útil e alta densidade calórica, como arroz, feijão, trigo, sal, açúcar e gorduras em pó, embalados em sacos herméticas, vidros com tampa e garrafas pet higienizadas, preferencialmente contendo algum tipo de conservante natural, como alho e folhas de louro.
Nutrição: Inclua multivitamínicos e proteínas em pó para compensar a dieta monótona e garantir a saúde em situações de estresse.
O objetivo é ter o suficiente para durar, no mínimo, de seis meses a um ano por pessoa, cobrindo o período de maior instabilidade após o colapso.
Nível 2: Habilidades de obtenção
Quando o estoque acabar, a capacidade de gerar ou obter alimentos se torna primordial.
Jardinagem de sobrevivência: Aprenda a cultivar plantas de alto valor calórico e proteico em espaços pequenos (batata, feijão, milho) e a salvar sementes para uso posterior.
Caça e pesca: Domínio das habilidades de caça, pesca e armadilhas (legalmente, na fase de preparação), entendendo as regulamentações e a conservação para garantir uma fonte renovável.
Forrageamento: Identificação segura de plantas comestíveis e medicinais em seu ambiente local.
A preparação alimentar séria transforma o preparador de um consumidor de recursos em um produtor de recursos.
Para o armazenamento de medicamentos, temos um post específico dedicado ao tema.